quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pequena história sobre um pirata.

O jovem Nicolas observava o céu, enquanto o velho Jack preparava o drink do dia. Quando os dois estavam a sós, a enorme varanda que tinha vista para a bela piscina se transformavam num navio navegando, sem direção. Era uma noite fria de fim de outono e ,segundo seus olhos e imaginação, o céu estava cheio de caras feias. 
  - Hey Marujo, amanhã no mesmo horário? 
  - Sempre Capitão. 
  - Lamento que se o acaso o atrapalhar para chegar a tempo, haverá uma pena. O senhor terá que andar na prancha marujo. Estamos entendidos? 
  Nicolas era um garoto magro, cheio de sardas na cara que sempre estava vestido igual: Calça preta e moletom vermelho. Seu mundo era um conto de fadas, e ele podia passar o dia inteiro (quase) somente com sua imaginação. A maioria de seus amigos eram imaginários.Bem mais legais que coleguinhas de escola, afinal. E, quem é que precisa de mais amigos quando se tem o capitão todas as tardes? A mãe de Nicolas frequentemente falava sobre Jack. "Meu pai brinca tanto com Nicolas com essa história de navio, capitão e não sei o quê que tá começando a ficar louco de verdade. O garoto pode viver com a cabeça no mundo da lua, mas não um velho . Não consigo mais falar sério com ele e isso acontece desde que minha mãe nos deixou. Porque diabos ele nunca consegue falar sério? " 
  O velho Jack, que na verdade era José, se refugiava tanto quanto Nicolas dentro de sua imaginação. Ninguém mais conseguia acreditar que sua saúde mental estava totalmente segura. Quando sua mulher morreu, não derramou nenhuma lágrima. Apenas ficou dias e dias isolado, e depois apareceu com um sorriso estampado no rosto, querendo ver cada vez mais o neto de apenas seis anos. De repente virou 'pirata'. Foram aparecendo cada vez mais fantasias, e acessórios de verdade como bussola, luneta e até uma pistola enferrujada. Isso parecia lhe curar a dor, mas começou a causar preocupação quando ele se retratava como capitão até mesmo quando o garoto não estava lá. Quando lhe era feita a pergunta: "Você está bem?" ou até mesmo "Você está louco?" ele apenas sorria. Havia largado a bebida há tempos, mas de vez em quando a mãe de Nicolas ainda procurava, em vão, vestígios de álcool pela casa. 
  Amigos inseparáveis, cada dia explorando mais esse dom da magia que há dentro de cada um de nós, avô e neto se divertiam o dia todo explorando ilhas no grande jardim, roubando carga de outros navios, tomando o velho e bom vinho (Que não passava de groselha). 
  Já era inverno. Nicolas observava as caras feias no céu novamente, mas dessa vez suas idéias estavam fixas nas dúvidas que sua mãe tinha sobre o velho Jack. Será que ele era mesmo louco? O garoto morria de medo de perder o grande capitão para a loucura, sabia que nunca encontraria amigo igual. Resolveu acreditar que seu avô não ficaria triste com a pergunta e resolveu dizer, finalmente: 
  - Vovô? 
  - Quem é vovô aqui marujo? Quer ser jogado aos tubarões?
  - Eu quero falar sério com o senhor. - Ao ouvir isso Jack abaixou um pouco os olhos e virou-se para o garoto. Sentou no banco ao lado. 
  - Bem... Diga meu rapaz. 
  - Mamãe sempre diz que acha que o senhor tá ficando caduco, perdendo a noção da realidade. Isso é verdade? 
  O velho Jack fitava o horizonte. Ficou em silêncio, alguns instantes. Sua cabeça estava pensando em coisas tristes, mas sua expressão era apenas de uma pessoa pensativa e nenhuma lágrima ameaçou embaçar sua visão. Ainda com os olhos longe, começou a falar. 
  - Sabe garoto... Minha vida foi muito feliz no geral. Mesmo não tendo conquistado todos meus sonhos, minha família tornou tudo muito feliz. Quando eu pensava ter chegado ao final, minha vida estava feita e eu continuava a sonhar. Uma tristeza repentina as vezes me visitava, trazendo saudade de quando eu era jovem e ainda podia correr atrás das coisas, mas logo passava. Até que sua avó me deixou... Eu não conseguia me conformar que estava nessa sem ela. Eu era um velho, sem a coisa mais preciosa que Deus já colocou em minha vida. Passado um tempo, eu percebi como conseguia deixar algumas tristezas de lado. As vezes deitava na cama e ficava imaginando que Dona Laura ainda estava comigo. Que estavamos viajando, mar a fora. O mar sempre foi minha paixão. 
  Ele ficou quieto, alguns segundos. Perdeu as palavras. Nicolas não conseguia dizer nada e lágrimas deslizavam sobre sua face. Jack, olhando no fundo de seus olhos, disse palavras que o garoto nunca conseguiu esquecer. 
  - O que eu estou tentando dizer meu garoto - E agora seus olhos não eram mais secos e brancos. - Tirando pouquíssimas coisas que eu tenho de verdade... Da realidade, pouco me interessa. 

4 comentários:

  1. What the hell? Que fantástico... eu jamais conseguiria escrever algo tão bonito e tocante em tão poucas palavras! Me surpreendeu... realmente me surpreendeu! Eu sabia que eu podia confiar em você pra fazer uma boa história sobre Piratas!!!

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  2. CORRIGINDO
    ANÔNIMA DISSE:

    Cara, você é incrível. Ler seus posts no twitter, suas indicações musicais, suas frases impactantes parecia ser o bastante. Não. Você surpreende com tudo aquilo, e mais isso. Na boa, ''sem grandes coleções, sem grandes talentos'' O CARALHO. Você é foda.

    Por: Uma menina, só mais uma. Outra virtual, afinal a realidade pouco interessa, não é? u_u

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  3. ANÔNIMA, OUTRA VEZ:

    Engano seu. Isso pode soar estranho, mas estou longe de ser próxima, entende? Não te sigo no Twitter, não mantemos contato por MSN, nem pessoalmente, nem por qualquer outro meio, e enquanto o ''Antigo Pouco que Restou'' estiver aí, não será preciso nenhuma outra rede social para conhecer ''O FABIO''.

    ANSIOSA PELA PRÓXIMA POSTAGEM.

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  4. Nossa, fico feliz que alguém ache isso, mesmo. Mas não entendo teu anonimato se realmente não é alguém próximo querendo inflar meu ego ou tirando uma com minha cara hahaha

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